"Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer"
Graciliano Ramos

quarta-feira, 7 de maio de 2014

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Desorientação - revisado -

Pensei num poema desconcertante que é mais ou menos um
jogar ininterrupto de palavras-sobre-palavras para assim

no final com a maior cara de pau do mundo constatar que tem sempre um ponto no final
e o eu lírico começa de novo a ir juntando palavra com palavra
palavra com palavra com palavra
com palavra com palavra com
palavra com palavra com palavra
até que no fim vem a pausa.
pode ter pensado um dia alguém que na vida
não tem pausa que tudo é assim seguido
uma coisa seguida da outra com o único indicativo de pausa
 

na 
quebra 
de 
linhas
 

e que o eu lírico anda assim seguindo algo sem pausa sobre pausa porque
não tem quebra de linha onde só 

suas pernas são
sempre quebradas 

não só suas pernas 
mas
as
pernas
de tudo
 

então para.

porque não dá pra andar na linha
só dá para se pendurar, se agarrar 
na fina linha, no meio-fio
mas ainda assim havendo uma linha
abaixo pode ser que o sentido se aninhe

num ponto
 

no final
 

quem sabe assim a coisa não ganha nexo
um anexo na linha
debaixo


porque já dizia o ditado
o poema é mais embaixo


Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca o Sol e o dia,


Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora
Quando vem passear-te pela fria,


Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.


Oh não aguardes, que a madura idade,
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.¹


 e o eu lírico chega

 lá perto do ponto no fim 
na pausa que tem no final
e nessa pausa nos aguarda a Formosíssima Maria 
pra dizer:
 
- Aqui o poema acaba. Que a pausa na verdade é abandono. 

por isso eu acabei de abandonar esse poema.



sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Mini-Versos de Contracapa

Anagralma 

Alma:
mala
sem alça 




Gramática Normativa

Novidade quente:

todo                            
advérbio              
 mente     

domingo, 8 de setembro de 2013

Forma

Subiu a montanha
um profeta

faltou-lhe o ar
e um par de pernas
caiu

não obstante 

novamente subiu
ligeiro 

e do alto 

gritou ao que é mundano

- Pro inferno com a forma! 

domingo, 25 de agosto de 2013

Big Bang

Antes de tudo
(eu sou uma cabeça
de alfinete)
antes de (tudo) começar

eu (uma cabeça de alfinete) 

sou (antes de tudo) 

sou uma cabeça 

de alfinete 
antes de (começar) 
tudo 

eu sou tudo antes

(da cabeça de alfinete)
começar

uma cabeça de alfinete

antes

eu sou antes

(eu sou uma)
antes de
uma cabeça de alfinete
tudo 

eu sou tudo antes

da cabeça de alfinete
eu sou uma cabeça
antes de tudo

e-s-t-o-u-r-a-r. 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Entrelinha

Aqui ponho uns versos
e os injeto com anestesia
para manter aparente
o quê de onírico do dia