No saldão de 1774
as lojas europeias esgotaram a morte.
"Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer"
Graciliano Ramos
quarta-feira, 7 de maio de 2014
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Desorientação - revisado -
Pensei num poema desconcertante que é mais ou menos um
jogar ininterrupto de palavras-sobre-palavras para assim
no final com a maior cara de pau do mundo constatar que tem sempre um ponto no final
e o eu lírico começa de novo a ir juntando palavra com palavra
palavra com palavra com palavra
com palavra com palavra com
palavra com palavra com palavra
até que no fim vem a pausa.
pode ter pensado um dia alguém que na vida
não tem pausa que tudo é assim seguido
uma coisa seguida da outra com o único indicativo de pausa
na
quebra
de
linhas
e que o eu lírico anda assim seguindo algo sem pausa sobre pausa porque
não tem quebra de linha onde só
suas pernas são
sempre quebradas
não só suas pernas
mas
as
pernas
de tudo
então para.
porque não dá pra andar na linha
só dá para se pendurar, se agarrar
na fina linha, no meio-fio
mas ainda assim havendo uma linha
abaixo pode ser que o sentido se aninhe
num ponto
no final
quem sabe assim a coisa não ganha nexo
um anexo na linha
jogar ininterrupto de palavras-sobre-palavras para assim
no final com a maior cara de pau do mundo constatar que tem sempre um ponto no final
e o eu lírico começa de novo a ir juntando palavra com palavra
palavra com palavra com palavra
com palavra com palavra com
palavra com palavra com palavra
até que no fim vem a pausa.
pode ter pensado um dia alguém que na vida
não tem pausa que tudo é assim seguido
uma coisa seguida da outra com o único indicativo de pausa
na
quebra
de
linhas
e que o eu lírico anda assim seguindo algo sem pausa sobre pausa porque
não tem quebra de linha onde só
suas pernas são
sempre quebradas
não só suas pernas
mas
as
pernas
de tudo
então para.
porque não dá pra andar na linha
só dá para se pendurar, se agarrar
na fina linha, no meio-fio
mas ainda assim havendo uma linha
abaixo pode ser que o sentido se aninhe
num ponto
no final
quem sabe assim a coisa não ganha nexo
um anexo na linha
debaixo
porque já dizia o ditado
o poema é mais embaixo
Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca o Sol e o dia,
Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora
Quando vem passear-te pela fria,
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh não aguardes, que a madura idade,
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.¹
e o eu lírico chega
lá perto do ponto no fim
na pausa que tem no final
e nessa pausa nos aguarda a Formosíssima Maria
pra dizer:
o poema é mais embaixo
Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca o Sol e o dia,
Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora
Quando vem passear-te pela fria,
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh não aguardes, que a madura idade,
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.¹
e o eu lírico chega
lá perto do ponto no fim
na pausa que tem no final
e nessa pausa nos aguarda a Formosíssima Maria
pra dizer:
- Aqui o poema acaba. Que a pausa na verdade é abandono.
por isso eu acabei de abandonar esse poema.
por isso eu acabei de abandonar esse poema.
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