"Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer"
Graciliano Ramos

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Poética alheia V

Geometria dos Ventos


Eis que temos aqui a Poesia,
a  grande Poesia.
Que não oferece signos
nem linguagem específica, não respeita
sequer os limites do idioma. Ela flui, como  um rio.
como o sangue nas artérias,
tão espontânea que nem  se  sabe como foi escrita.
E ao mesmo tempo tão elaborada - 
feito uma flor na sua perfeição minuciosa,
um cristal que se  arranca da  terra
já dentro da geometria impecável 
da sua lapidação.
Onde se conta uma história, 
onde se vive um delírio; onde a condição humana exacerba,
até à fronteira da loucura, 
junto com Vincent e os seus girassóis de fogo,
à sombra  de Eva Braun, envolta no mistério ao
                                                  mesmo  tempo
fácil e insolúvel da sua tragédia.
Sim, é o encontro com a Poesia.
Rachel de Queiroz

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Assalto.

E quem é que vendeu essa poesia
Que esperava à fila do sindicato?
Quem aqui anoiteceu meu doce dia?
Quem tarde conseguiu esse mandato

Para sumir pra não se sabe onde?
Levou os versos que não quis vender
Nem pra rei, presidente, duque ou conde.
A Minha redondilha do não ser

Foi leiloada pela Ásia a fora:
não eram versos bons; poesia farta.
Mas é tarde, o poema foi-se embora.

Eu perdi o meu soneto autodidata.
Perdi meu fá, a nota foi-se em hora.
disso eu descobri: Poesia mata.