"Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer"
Graciliano Ramos

terça-feira, 20 de março de 2012

Saudosismo.

O ser-poeta não é mais o ser de antigamente..
Ah, antigamente... As mulheres amavam os poetas.
O poeta era príncipe!
O poeta era engenheiro!
Era Poetinha!
Hoje é o que?
As mulheres já não amam os poetas.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Papo de porta.

               Na minha cozinha há uma porta que nunca para; hora aberta; hora fechada. É um horror. Eu, particularmente, sempre a fecho. Porém, esses dias, ao me ver fechá-la, minha mãe protestou.
               
                - Mas que saco, como você é chato, Pedro! Deixe a droga da porta aberta, ninguém aguenta esse calor.

                - Mas mãe...
               
                O protesto metamorfoseou-se em ordem, e depois proclamação... Cedi.  Ficou a porta aberta pelo resto do dia. Não me conformei, é fato; cedi, pois forças ocultas me impediam de continuar (Sei bem como é, Jânio). Mas ao olhar a porta aberta, e ver toda a luz que de fora entrava, pensei com meus botões: Pra que serve a porta?
               
                Duvida cruel. Não sei da origem da porta, nem tive o ânimo de descobrir; não sei seus feitos históricos, não sei quem a popularizou, nadinha disso. Apenas sei que ela abre e fecha; Esconde o casal de namorados, mostra a o jardim do palacete, e é a moldura preferida das casas de praia. Machado descrevia as almas como se fossem casas; a de Bentinho tinha portas frouxas; ah se Bentinho tivesse uma fechadura; Ia-se embora uma grande obra. Conclusão que prova o óbvio: São bem vindas as portas abertas na arte. 

                Há, porém, pessoas como eu, que acreditam na utilidade da porta fechada. Se houvessem mais delas trancadas, quem sabe não nos habituaríamos a nos levantar para abri-las? Portas sempre abertas não despertam o nosso sentimento de incômodo com a luz que não entra na sala, ou com o calor que faz na cozinha. Ela fechada é o primeiro passo para a porta aberta, o resto depende de quem a confronta. São atrás das fechaduras que vivem as surpresas, as portas abertas são alvos fáceis para os preguiçosos. Divagando sobre portas, portões e portinholas, recordo que a Fernanda de García Márquez dizia que as essas foram feitas apenas para se fechar; concluo e fecho a porta da cozinha.

                Peço perdão pela desobediência, mas outra Fernanda (essa minha mãe) não é fruto de um Nobel de Literatura.