"Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer"
Graciliano Ramos
quarta-feira, 20 de junho de 2012
Elegia do bicho da elegia
Empreguei-me em construir um animal
Tal qual o Elefante de Drummond.
É pena: Na tentativa de fazer viver o Leão
Me dei com um bicho disforme, sem charme;
Sem fome ou carne que lhe aprazesse.
Não era o Animal da poesia, era apático.
Não tinha os olhos de matéria prima infigurável;
Nem o corpo cheio daquele simpático
Odor que só pessoas sensíveis podem exalar.
Era cinza e quadrado
Tinha as pernas duras
E precisava de rodinhas.
Não era o imaginado.
Nas suas formas cruas
Nem um sorriso tinha.
Quis esconde-lo, destruí-lo
Queria dá-lo, enterrá-lo;
E os que me visitavam:
"Que mediocre seu animal; que figura deprimente.
Bicho mais indecente; criatura anormal."
Lamentei a criação,
Esse animal sem culpa.
E o escondi sem abraços
No armário onde vivem
Os meus bichos de fracassos.
E é resumidamente disso que nós vivemos.
Do que era pra ser e que não foi.
Do que não era pra ser e que não foi.
dos animais que inventamos e escondemos.
Dos romances geniais que não publicamos;
Das ideias que não saem de uma voz rouca.
Das filosofias ideais que nunca propagamos;
Isso é o que é ser gente!
Isso que é ser Pestana, que é tocar polca,
Humano menor.
Humano pior.
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